Minha tendência de abraçar o mundo na
tentativa insana de ajudar a todos sempre me deixou suscetível as coisas que
vão além do meu controle. A questão é que eu deixei a minha empatia, que
consiste em colocar-me no lugar do outro diante das dificuldades na tentativa
de compreender seus sentimentos, tornar-se algo destrutivo onde eu não somente
me colocava no lugar daquela pessoa como tentava tomar os problemas como meus. Eu buscava resolve-los a fim de gerar um bem-estar àquele com quem fui empática. Essa
atitude maléfica, mal fundamentada na ideia de ser capaz de solucionar
problemas que nem ao menos me pertenciam, começou a criar uma série de padrões
negativos de vibração em mim, onde o esforço para ajudar acabou se tornando
uma arma contra meu próprio equilíbrio.
Em outras palavras, eu me tornei uma
esponja da energia e das emoções alheias. Comecei a absorver primeiramente os
problemas dentro da minha casa, desde as discussões de meus pais até os
conflitos existenciais do meu irmão, comecei a absorver cada pingo de
complicação estocando-os dentro de mim como se eu fosse capaz de guardar aquilo
tudo e manter uma paz no ambiente. Comecei a absorver os padrões negativos do
meu namorado, dos meus amigos e até mesmo dos conhecidos que conversavam comigo
vez ou outra. Fiz isso por querer que todos estivessem bem, estivessem em paz como eu
acreditava estar, até a situação virar-se contra mim.
Quando eu percebi que as pessoas ao
meu redor sabiam o mal que aquilo causava, mas inconscientemente permaneciam
criando padrões negativos dentro de si, quando eu vi que eu estava tão ocupada
regando os jardins dos outros que acabei esquecendo de cultivar o meu próprio,
que eu havia cometido o crime de tornar-me figurante da minha própria vida
enquanto tentava protagonizar a vida dos outros, que eu havia me prendido num
ciclo vicioso, fui capaz de perceber como minhas costas pesavam por fardos que
não eram meus. Aquilo começou a atingir o meu relacionamento com as pessoas,
desde aquelas que eu amava até aquelas que eu começava a criar laços, a paz que
eu enxergava era uma ilusão criada por mim, que tentava acreditar que minhas
ações desmedidas estavam gerando frutos e não espinhos como realmente acontecia.
Então, eu comecei a escrever. As
palavras começaram a eliminar da esponja que eu havia me tornado tudo aquilo
que eu acumulei sem perceber, tudo aquilo que não me pertencia e que começava a
me consumir de forma indevida. As palavras começaram primeiro a serem escritas
por mim e para mim, mas depois passaram a ser construídas na intenção de
atingir todas as esponjas ao meu redor que nem ao menos suspeitavam da
realidade que estavam inseridas. Fiz cartas para mim mesma e também para o
Universo, poesias, crônicas, bilhetes e tudo aquilo que permitia que eu me expressasse,
dessa forma fui voltando a ser quem eu realmente era, livrando-me dos espinhos
alheios que cresciam em torno de mim e tomavam conta do meu ar, da minha vida e
dos meus padrões positivos.
Aos poucos, durante meu processo de
limpeza e reconhecimento de mim mesma, passei a ver quão grande é o mundo
diante dos meus braços curtos, quão pequena eu sou diante da enormidade do
Universo para acreditar que consigo abraça-lo e abraçar a todos que me rodeiam.
Na tentativa de desconstruir cada padrão que criei, que permiti tomar conta de
mim e da minha vida, comecei a identificar pessoas ao meu redor que construíram
suas identidades a partir de padrões negativos, a partir do pessimismo e das
más vibrações. Comecei a perceber as relações tóxicas e me livrar delas junto a
toda a negatividade que elas me trouxeram.
Escrevendo inicialmente tentei
conversar comigo mesma e esclarecer meus conflitos internos, mas a realidade
mostra que a maioria das pessoas empáticas, com seus corações enormes e ações
guiadas mais pela emoção do que a razão tendem a ter a mesma mania de querer
abraçar o mundo. Perceber que os padrões negativos, os problemas e conflitos
estão entrelaçados com os padrões positivos foi o que me ajudou a encontrar o
lado positivo - aquela ponta solta capaz de desembaraçar todo o fio - até nas
situações mais difíceis. Perceber que eu era o jardim mais importante, e o lar
de tudo aquilo que eu precisava, me levou a entender que salvar aqueles que não
estão dispostos a ajudarem a si próprios é unicamente uma forma de ferir a si
mesmo, tornando-se uma enorme esponja que quando chega no seu limite passa a
ser um incômodo.
Cultivem seus jardins, a reciprocidade
permite que você regue ao outro, mas não que você o afogue e deixe de cultivar
a si mesmo. A abundância e a escassez são dois lados de uma mesma balança que
ignoramos de forma inconsciente, assim como nossas próprias raízes e espinhos.
1 comentários
Muito amor pelo seu blog, moça. Cheguei aqui quase por acaso hoje e já trouxe a poltrona, a manta e o gato 😉
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