Para aqueles que desacreditam no amor
Por Cecília Fernandes - sábado, agosto 08, 2015
Uma das piores coisas que podem acontecer a um poeta amante
do universo e de todas as pequenas artes que ele pode oferecer é ver alguém que
gosta – ou melhor, ama – desacreditar no
amor. É pior que o punhal para Romeu ou o veneno de Julieta e muito pior
que a maça para Eva, é como a dor mais forte na cabeça ou o fim mais trágico
para um bom livro, é como o fim de um arco-íris e um leite azedo no meio da
vitamina matinal.
Faz parte do meu show – e sempre fará, eu espero – acreditar
nesse substantivo abstrato que trás tantos significados nas páginas pequenas de
um dicionário, que levou filósofos de diferentes eras ao túmulo tentando
buscando o entendimento, que transformou tinta da caneta em poemas dos mais
nobres escritores e que enriqueceu esse texto
com diferentes emoções.
Não adianta vir com esse papinho barato e sem graça de que o
amor já te derrubou demais e levou sua esperança, de que você se apaixonou
perdidamente por uma garota apostando todas as suas moedas em um saco furado
apenas para no final amargurar-se, tomando o papel da vítima diante de tudo e é
muito pior me dizer que o amor é para os fracos. Mente quem afirma isso, caros
leitores, amar é para os fortes, os
bravos e impávidos que vestem suas armaduras e ainda assim no leito de morte
abrem os braços aceitando o fim.
Amor é diferente de paixão, ah se é. O amor por vezes é
sorrateiro, sereno e quieto por outras é feroz, arrebatador e impiedoso, ás
vezes é pontual, mas assumo que adora ser inconveniente e aparecer sem avisar.
É daqueles que deita no sofá sem ser permitido e também sabe sentar e
aproveitar um bom chá sem nada falar. Já o vi dançando em diversos bares e
também chorando em muitos velórios, sei que ama uma agitação, mas adora
domingos de chuva em casa com um bom filme.
É um sentimento estranho, eu sei. Tem mais faces que um poliedro e é mais claro que qualquer espelho,
talvez por isso seja tão verdadeiro tornando óbvio pra quem não quer ver e
incômodo para quem já viu demais. Não é
fácil e muito menos prático. Não é verbo para se conjugar ou termo para se
listar. Não é teoria ou prática e muito menos amargo para beber com cachaça.
Amor é o que é e ponto final.
Na verdade ponto e vírgula porque o texto não acaba aqui,
muito menos o sentimento que é tão ligeiro que pode estar ai ou até mesmo
respingado pelas letras disso daqui. Talvez tenha um tom, não sei se é vermelho
ou marrom, mas a cor não importa desde que ele exale, a partir daí está bom.
Não sei por que rimo, porém o que importa é que enquanto escrevo rindo sinto que o sentimento vivente encontra-se do
meu lado julgando o meu texto como julga um possível par de namorados.
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