A influência do padrão de beleza eurocêntrico sobre a questão da autoestima feminina

Por Cecília Fernandes - segunda-feira, junho 30, 2014

A frase "o Brasil é um país diversificado" fez parte de toda minha formação escolar dentro das aulas de história, sociologia e produção de texto. O estudo do surgimento da miscigenação do Brasil, começando pela presença dos povos indígenas que habitavam a região, passando pela chegadas dos portugueses europeus, a entrada de negros africanos como mão de obra escrava e o incentivo à imigração de europeus, asiáticos, árabes e de outras etnias para abastecer a economia e desenvolver o país se constituí como um discurso basal na educação oferecida nas escolas brasileiras. Apesar disso, conversar sobre diversidade não é aplicar a noção dessa diversidade na mente dos estudantes, considerando o número de influências fora do ambiente escolar que provocam em garotos e garotas a fixação de um padrão de beleza inalcançável por vias saudáveis.

Quando era mais nova, mais especificamente quando comecei esse blog em meados de 2014, um dos meus maiores problemas era a visão que tinha do meu próprio corpo. A baixa autoestima permeou grande parte da minha pré-adolescência, sendo responsável por me fazer abrir mão de biquínis e piscina, assim como sacrificar erroneamente refeições essenciais na tentativa de alcançar o corpo que via nos filmes e revistas. Por influência de famosas revistas adolescentes da época e seus textos sobre como se comportar para atrair atenção dos garotos, qual corpo ter para ser considerada atraente e outros textos desse gênero, passei a considerar normal ficar sem jantar ou comer muito pouco sempre, o que não foi um problema somente meu, como também uma questão comum entre adolescentes.

A normalização de distúrbios alimentares é provocada pelos veículos midiáticos e seus discursos acerca de uma beleza ideal, compartilhado pelo enorme número de imagens de modelos brancas, magras e altas, por frases como "beleza é sacrifício" popularizada entre as pessoas como um mantra e a falta de representatividade da diversidade humana em comerciais e propagandas. O fortalecimento de discursos desse gênero amplia o número de casos de anorexia, bulimia nervosa, transtorno alimentar compulsivo e outros quadros que interferem fisicamente e psicologicamente em jovens de todo o país.

Outra questão importante é a compreensão sobre os diferentes critérios de beleza desenvolvidos ao longo da história da humanidade. Entre o corpo rechonchudo da Vênus de Willendorf na pré-história e o atual padrão de beleza que alterna entre o corpo da modelo de passarela e da musa fitness da internet, existiu muitas alterações provocadas pelos valores culturais e intelectuais de cada época. Entretanto, a diversidade foi um fator presente em cada fase dos conceitos de beleza existentes: se hoje o padrão de beleza na Austrália é um corpo musculoso e atlético enquanto na Espanha é a sensualidade nas curvas e no cabelo de uma mulher, não quer dizer a pluralidade de biotipos e etnias presentes nesses mesmos países é anulada.


A questão dos biotipos e das etnias é extremamente importante na construção da autoestima. Somente quando compreendi, pelo aprendizado obtido de experiências pessoais e a visão crítica da realidade ensinada pela leitura, que meu corpo tem influências diretas com minha etnia racial pude começar a aceita-lo como é. Numa família como a minha, constituída quase majoritariamente de pessoas negras, tenso sido miscigenada entre as gerações, reconheço que jamais caberei no "padrão eurocêntrico de beleza" e que meu biotipo não atende às expectativas de grifes que insistem em padronizar suas passarelas.

Em 2006, o SENAI realizou uma pesquisa para criar um padrão as medidas dos brasileiros com intenção de compreender os tamanhos de roupas vendidas e fabricadas no país, desse modo, solucionando o problema de diferentes números de roupa para o mesmo consumidor. Os resultados dessa pesquisa indicaram que as medidas dos corpos brasileiros destoam dos padrões vendidos pela mídia, tendo as mulheres uma circunferência maior e em crescimento em decorrência de hábitos alimentares não saudáveis, indicando também que cada região do Brasil possui um padrão de medidas diferente. Em um país em que sete a cada dez mulheres sentem pressão para ser bonita, de acordo com os resultados da pesquisa da psicanalista Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças e da Beleza da PUC-RIO, é essencial conversar sobre saúde física e mental no processo de construção da autoestima feminina.

Compreender também que as medidas do corpo físico de mulheres no Brasil é influenciado pelos hábitos alimentares remetem a uma série de motivos que podem provocar os distúrbios alimentares já citados aqui no texto. A Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Ministério da Saúde, em parceria com o IBGE no ano de 2014, mostra que apesar das mulheres terem hábitos alimentares mais saudáveis em relação aos homens, cerca de 28% das entrevistadas possui hábito de ingerir alimentos gordurosos. Entre o estresse do trabalho, as alterações hormonais do ciclo menstrual e a alimentação desregulada, a pressão de atender aos padrões de beleza afeta diretamente a imagem que o público feminino possuí de si mesmo.

A importância do entendimento acerca da diversidade não basta se for apenas teórica e não prática. É a partir da informação e do conhecimento sobre a pluralidade das pessoas no território nacional que o combate a influência do padrão de beleza eurocêntrico é realizado, como consequência desse processo, mulheres como eu e tantas outras que lidam ou lidaram com problemas de autoestima são capazes de se empoderar e aceitar cada nuance de seus corpos e personalidades.

fontes consultadas

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1 comentários

  1. Verdade, eu sei muito bem o que e fica sem comer fazer, dietas totalmentes loucas, so pra ter um corpo perfeito mais mesmo assim não consegui e hoje percebo que nada daquilo era necessário que tenho que o corpo que gosto não o que as outras pessoas jugar ser o certo

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