Filme: Para todos os garotos que já amei

Por Cecília Fernandes - segunda-feira, agosto 20, 2018

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"Para todos os garotos que já amei" é a nova comédia romântica produzida pela Netflix e lançada no mês de agosto. Estreada na plataforma na quarta-feira (17), o filme é uma adaptação do livro homônimo da escritora norte-americana Jenny Han, dirigido por Susan Johnson e a produção original que mais esperei lançar esse mês. A trilogia literária alcançou minha atenção por indicações de uma amiga literata, tendo sido uma das primeiras leituras em inglês que realizei.

Com leitura fácil e enredo envolvente, logo no final do primeiro livro me encontrei apaixonada pelos personagens e pelo romance semelhante aos antigos filmes da "Sessão da Tarde", comédias românticas fáceis de ver repetidamente. A notícia de que a Netflix, empresa em ascensão na produção de conteúdos originais pela qualidade das adaptações e criações, produziria o filme, o elenco selecionado e a trilha sonora criaram grande expectativa em mim e após assistir a estreia devorando cada segundo, deixo aqui minha resenha.
"Para todos os garotos que já amei" conta a história de Lara Jean Song Covey (Lana Condor), uma adolescente de 16 anos apaixonada por romances, filmes dos anos 80 e colecionadora de objetos antigos. Lara mora com seu pai e suas duas irmãs, Margot (Janel Parrish) a mais velha e Kitty a mais nova. A morte de sua mãe quando eram crianças transformou a família em um núcleo unido pela irmandade na intenção de auxiliar o pai viúvo e cuidar uma das outras.

A jovem protagonista vive no universo de filmes e livros românticos, fantasiando a realidade e idealizando cada detalhe. Como uma garota apaixonada e introvertida, a personagem possuí o hábito de escrever cartas aos garotos que gosta sem nenhuma intenção de entregar. Quando ela sente uma paixão imensa e incontrolável por um rapaz, ela escreve uma carta revelando seus sentimentos, a coloca em um envelope com o nome e o endereço, mas nunca as envia. 

A narrativa se desenrola quando as cinco cartas que ela escreveu desde a infância até a adolescência são enviadas a todos os rapazes, criando uma situação de constrangimento e desespero na jovem que vê seus sentimentos relevados de uma vez só. Um desses destinatários é seu melhor amigo, vizinho e namorado de sua irmã mais velha, Josh Sanderson (Isreael Broussard), que conquistou o coração e a amizade de Lara Jean antes dele se envolver com Margot, mas nunca soube dos sentimentos da mais nova. 

O episódio ocorre no início do junior year de Lara Jean, o ano em que sua irmã Margot se muda para Escócia na intenção de fazer faculdade, deixando-a sozinha e a mercê de uma realidade fora de sua zona de conforto na escola. Uma dessas cartas é recebida pelo garoto popular do colégio, Peter Kavinsky (Noah Centineo), namorado de Genevieve, antiga melhor amiga de Lara Jean que passou a odiá-la após um jogo durante o ensino fundamental que gerou um beijo infantil entre Peter e Lara Jean. 

Em um quadro extremamente impulsivo e vergonhoso, Lara Jean se vê beijando Peter repentinamente. Toda a ação é resultado de uma tentativa de despistar Josh, que buscava conversar sobre a carta e os sentimentos de Lara Jean. A situação cômica transforma Peter Kavinsky e Lara Jean em aliados, pois ambos decidem fingir um namoro na intenção de continuar despistando Josh e provocar ciúme em Genevieve, que trocara Peter por um estudante universitário. 

A partir dessa proposta e do contrato que eles firmam a respeito de regras do relacionamento a história e a narrativa de cada personagem se desenvolve em três livros incríveis - "Para todos os garotos que já amei", "PS Ainda amo você" e "Agora e para sempre, Lara Jean"

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O filme condensa a história do livro em uma hora e quarenta minutos de produção, deixando alguns detalhes importantes de fora. Por exemplo, o hábito de Lara Jean de colecionar objetos antigos comprados em lojas de penhores, o asilo de Belleview que ela trabalha como voluntária, onde tem contato com as personagens Stormy, a bisavó de John Ambrose McClaren - outro rapaz que recebeu uma das cartas - e Janelle, coordenadora de atividades interna do asilo. Além disso, o filme não inclui a vizinha da família Covey, Trina Rotchschild, que acaba se tornando uma personagem relevante às irmãs e principalmente para o pai delas nos outros livros. 

Além disso, a Chris, melhor amiga de Lara e prima de Genevieve, é deixada como coadjuvante no filme, com presença superficial e falas que descaracterizam a importância da personagem na jornada de amadurecimento de Lara Jean. Na realidade literária Chris é a precursora de grande parte das decisões que a protagonista toma, incentivando a amiga para fora de sua zona de conforto e apoiando seus sentimentos. Apesar disso, a escolha e caracterização de Madeiline Arthur combinam com a personalidade da personagem no livro. 

Nesse sentido, para mim, o ponto mais forte do filme é o elenco selecionado. Lana Condor como Lara Jean, Israel Broussard como Josh Sanderson e principalmente Noah Centineo como Peter Kavinsky foram além da minha imaginação durante a leitura e incorporaram os personagens muito bem. Apesar da Janel Parish, no papel de Margot, ter uma aparência mais velha e não de quem tem dezoito anos recém-feitos, a sincronia dos atores cativou facilmente os espectadores e leitores, de acordo com as resenhas e críticas publicadas na internet. 

Lana Condor conseguiu transmitir a delicadeza, inocência e romanticidade na personalidade da Lara Jean, deixando aquele espaço que demonstra sua vontade de se aventurar, conhecer o mundo e arriscar na forma de se comunicar e de agir durante o filme. No livro, Jenny Han descreve os visuais da personagem como parte integrante de quem ela é e no filme é possível conhecê-la pelas roupas que usa. 

Israel Broussard transmite a confusão de Josh diante das irmãs Covey, o sentimento por Margot, a preocupação excessiva com Lara contrastando com o sentimento sincero da amizade dos dois e a inimizade por Peter. Noah Centineo, por sua vez, é o perfeito Peter Kavinsky, desde o sorriso encantador até a forma de demonstrar seus sentimentos, arrancando suspiros fáceis e transformando um dos meus personagens fictícios favoritos em realidade sem dificuldades.

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É válido e essencial ressaltar que a história, tanto o livro quanto o filme, é um clichê adolescente. A ambientação no high school americano, com a protagonista delicada e não popular na escola que sofreu uma tragédia familiar, o protagonista popular da escola, namorado da garota igualmente conhecida, constroem a base de praticamente toda comédia romântica adolescente. Os personagens adjacentes e suas nuances, como o melhor amigo comprometido, a melhor amiga protetora, o pai compreensivo e demais componentes representam tanto um alívio cômico quanto ao tradicional auxílio à protagonista em suas decisões, o que ocorre em filmes como Simplesmente Acontece, A Mentira, De Repente 30, Ela é Demais e outros. 

Ainda assim, a obra possui seus diferenciais. Os elementos de cultura asiática cultivados pela família em respeito à mãe, que quando viva ensinava às filhas sobre a tradição de sua nacionalidade pela alimentação e pelos costumes. A união das irmãs Covey, motivada pela diferença de idade e a ausência da mãe, criam uma sensação de sororidade e irmandade sincera onde uma protege a outra, perdoa, escuta e se ajuda independente da situação, até se sua irmã aparentemente está apaixonada pelo seu ex namorado. O desenvolvimento de Lara Jean para uma adolescente mais ousada, que segue seus sentimentos e não tanto seus pensamentos, o enfrentamento de seus medos como dirigir ou se apaixonar verdadeiramente por alguém, enfim, todo o processo de autoconhecimento trazidos no livro e sintetizados no filme. 

Entre todos os pontos apresentados aqui, o que também me atraiu a atenção foi a fotografia do filme. As cenas harmonizadas pelas cores do cenário e das roupas, pela tonalidade quente do recorte de um personagem em contraposição à tonalidade fria de outro, a decoração dos ambientes equilibrada com as características dos personagens, os enquadramentos focalizando elementos específicos e a ambientação tomam conta do início do filme até a metade.

Infelizmente, esse efeito visual aparenta cair em desuso na segunda parte do filme e dá lugar à cenas mais desorganizadas. Talvez esse abandono tenha sido uma tentativa de acompanhar a bagunça que se torna a história de Lara Jean e os sentimentos de confusão, tristeza e melancolia que tomam conta, mas ainda assim é uma perda que pesa. O equilíbrio visual retorna somente na cena final, reforçando a hipótese de que a harmonia acompanha os sentimentos da protagonista, em uma cena com o afastamento da câmera sobre o campo de lacrosse e os personagens principais em movimento.

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Com um final semelhante à 10 coisas que odeio em você, o filme "Para todos os garotos que já amei" supera facilmente "Barraca do Beijo", produção original da Netflix estreada em maio e também inspirada em um livro homônimo. Apesar de ambos serem clichês adolescentes, acredito que o filme de Susan Johnson e a história de Jenny Han dão espaço e foco ao processo de amadurecimento da protagonista, sem colocar o relacionamento como base dessa jornada. 


A cena pós-crédito deixou um ar de uma possível continuação, com a aparição de John Ambrose McClarean, um dos remetentes da carta de Lara Jean, na porta da família Covey. No segundo livro, ele se torna um personagem recorrente da história, sendo um conflito para o relacionamento da garota com Peter, mas principalmente um desafio para o desenvolvimento da protagonista.

Eu indico a leitura dos livros para todos que gostaram do filme, até porque a narrativa literária é mais completa, densa e romântica do que a narrativa cinematográfica. Àqueles que tem conhecimento do idioma inglês seria incrível se comprassem todos na linguagem original, para compreender elementos da história que tendem a fazer mais sentido nesse idioma, como por exemplo o apelido que Greg dá à Lara Jean, a relação dela com Belleview e principalmente os sentimentos dos personagens, explicados muito melhor em inglês do que na tradução em português. 

É um filme muito bom, semelhante às comédias românticas dos anos 2000, aos filmes da Sessão da Tarde com história fácil e narrativa envolvente. Para quem tem, como eu, um amor por romances adolescentes cheios de clichês e personagens recorrentes nas narrativas desse gênero, é uma excelente indicação. Apesar de ser uma adaptação ao livro, o filme não peca excessivamente no abandono de partes da história e as mudanças inseridas fazem sentido quando analisadas na ótica de uma produção que busca transformar um livro de mais de trezentas páginas em um filme de uma hora e quarenta minutos. 

Espero que apaixonem por Peter Kavinsky, pela Lara Jean, pelas irmãs Covey, por Josh e cada detalhe dessa história como eu. 
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